Thursday, October 09, 2008

A esgrima de classes

O gestor do projecto onde me encontro a trabalhar actualmente é uma interessante personagem. Como bom italiano trata as mulheres com nomeclaturas que mais ninguém ousa usar. Já ouvi um colega de trabalho referir-se à namorada como “a minha fêmea”, o que, sendo bastante mais forte e sem classe, fica ainda assim a léguas de distância quando analisamos a classificação, segmentação ou detalhe do dito gestor. Para termos uma comparação, o meu colega de trabalho dizia “a minha fêmea” e não ia mais além do que isso. Era sua fêmea mas não sabíamos mais nada. Nadinha. Ficava por ali. O meu gestor de projecto trata as mulheres pela bonita palavra de “território”. “Os meus territórios” que em inglês fica ainda mais bonito: My territory. “Be carefully, this is my territory”, diz ele, sempre que se aproxima alguém com mais alguns centímetros. Bem, o que é importante de referir na sua classificação é que ela não pára por aí! Dentro dos seus territórios há outros subgrupos de classificação e ordenação dos elementos. Por exemplo, ele ordena os seus “territórios” por nacionalidades, ou seja, “hoje estive com o meu território alemão; amanhã vou jantar com o meu território holandês isto se o meu território americano não perturbar”. Como tem que encarar a fatalidade técnica de ter vários territórios com a mesma nacionalidade deu-se ao trabalho de construir outro índice, este, como iremos ver, muito mais orientado à estrutura organizacional e empresarial. Assim, muitas vezes, para detalhar ao máximo as descrições que pretende fazer, diz, “o meu território nas Vendas ou o meu território dos Recursos Humanos”. Claro, como seria de esperar, as circunstâncias da vida muitas vezes conjugam-se de uma forma tão injusta e despropositada que o dito gestor tem que lidar com o problema (issue, no seu bom inglês: “Well gentlemen, we have an issue!”) que é ter vários territórios na mesma secção ou departamento. Assim, surge a subclasse que tomo a liberdade de baptizar de “física”, e passamos a ouvi-lo dizer “o meu território loiro; o meu território ruivo; o meu território dos olhos negros”. Muitas vezes, para não fiquem quaisquer dúvidas para quem o ouve, recorre a duas ou a três classes em simultâneo, e então passamos a ouvir “o meu território dos recursos humanos, a alemã, a do rabo grande!”, especifica.
Porque alguns dos seus territórios são mesmo horríveis, daqueles que ninguém lhes pega, e para que não se pense que ele é do tipo, como ele mesmo faz questão de evidenciar, “à noite todos os gatos são pardos”, decidiu criar mais uma classificação, esta de justificação, esclarecimento ou detalhe, para determinar o índole do território. Então ouvimos o gestor dizer “este não é um território sexual!”, ou no seu perfeito inglês, “come on guys, this is not a sexual territory!”. Para que se entenda o conceito, o gestor tem um território que trabalha na caixa da cantina da empresa. É mesmo feia a senhora! Ele diz que tem que a aceitar como território para conseguir colheres e garfos descartáveis grátis.
Então, pergunta-se, qual o segredo para tanta classificação neste simples Italiano?
Não há segredo ou, se o há, está apenas em ser natural, espontâneo e minimamente divertido!
Aqui fica um dicionário que ando a construir com base nos termos que tão divertida persona diariamente e naturalmente vai mencionando:
O que pretende dizer ----- O que costuma dizer:
Product hierarchy -------- Product Iraque
First of all ---------------- Festival
Cut-over ----------------- Kartofen
Travel plan -------------- Trouble plan
I have no clue ------------ I have no glue
E por aí fora!

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